segunda-feira, julho 25, 2005

Desfecho

Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)

Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...

E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu a sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.

Câmara Ardente (1962)
Miguel Torga

1 Comments:

Blogger Fauno said...

este...entre todos os poemas de Torga, aquele que mais nos aflige a nós, ateus... ou falsos ateus...ou pagões ou místicos até...

poema bem apontado

2:51 da tarde  

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