quinta-feira, junho 30, 2005

Data

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo de ameaça

Livro Sexto (1962)
Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, junho 27, 2005

Bicho-de-conta

Meu canto canta a Distância
e as memórias de onde venho...
Com desfocado desenho,
conto e canto a minha infância,
lume e chama deste lenho...

Ecos que em mim se ressoam,
ir e vir de tempo vário,
de que fui tão perdulário
em quantos cantos ecoam
as contas deste rosário?

Verde canto, sequestrado,
na poeira d'outra idade,
sou nos muros da cidade
bicho-de-conta fechado,
no meu canto de saudade...

Fernando Garcia

segunda-feira, junho 20, 2005

Calçada de Carriche

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

António Gedeão
Poesias Completas (1956-1967)

terça-feira, junho 14, 2005

E já passou outro...

Pois é! Já passou mais um mesito de namoro! Hoje fazemos 16 meses e o nosso desejo é que estes 16 meses se multipliquem por muitos e muitos anos... Que mais posso eu dizer além de dizer que sou uma mulher muito feliz? Que estou ao lado da pesssoa que mais AMO? Não vale a pena dizer mais nada porque ele sabe bem o que eu sinto e não preciso escrever aqui mais uma vez...

quinta-feira, junho 09, 2005

Serra Mãe

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram as veias,
nem o sol escureceu,
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram
não enlouqueceu ninguém.

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


Sebastião da Gama

domingo, junho 05, 2005

Desculpas

Peço imensas desculpas pela minha ausência após o meu aniversário... Mas nem tudo são coisas boas! O dia dos anos foi excelente, o fim de semana melhor ainda com muita festa e animação, mas o pior chegou no Domingo à noite... Fiquei mesmo muito mal, ao ponto de não conseguir sequer vir para casa e o meu namorado me ter de levar para casa dele! Na Segunda fui ao médico e não é que estava com uma gastroenterite?! Ah pois é... 3 dias de descanso, 3 dias de dieta e 3 dias a tomar comprimidos... Bahhh! Mas pronto, cá estou eu de volta! Mais notícias em breve ;)